sábado, 28 de maio de 2016

A MENINA COM MAIS DE TRINTA

Por Rogério Fernandes Lemes

Na semana em que concluí uma formação para o trânsito ouvi, reiteradas vezes, os instrutores falarem sobre os acidentes que os agentes presenciam rotineiramente, a ponto de não mais causarem desconforto dado à quantidade de tragédias vivenciadas por eles. Como passamos duas semanas em sala de aula acabei ficando desatualizado sobre o noticiário nacional.

Após a conclusão teórica do curso encontrava-me em casa, quando recebi uma mensagem em um desses aplicativos que, vez ou outra, é bloqueado pela Justiça. Tratava-se da solicitação de uma repórter de televisão sobre os números estatísticos de estupros ocorridos em Dourados, no ano de 2015 e até a presente data.

Concluído o levantamento dos números assombrosos, diga-se de passagem, e a aprovação institucional para a divulgação na imprensa foi que tomei conhecimento, através dos noticiários, sobre um estupro coletivo ocorrido na zona Oeste do Rio de Janeiro.

Recebi, pelo mesmo aplicativo, fotos da vítima de dezesseis anos ostentando arma de fogo e armamento pesado e, logo em seguida, fotos tiradas por seu suposto namorado, mais um vídeo chocante. Nos noticiários a repercussão do crime e algumas manifestações de autoridades públicas exigindo a imediata identificação e responsabilização dos criminosos.

O Mais revoltante do vídeo foi ouvir a forma como os rapazes ostentavam a barbaridade que cometeram como se fosse um troféu; como se aquilo fosse digno de ser exibido nas redes sociais, como forma de mandar uma mensagem para seus rivais.

Valendo-me das palavras de uma ministra brasileira, penso ser impossível para os homens civilizados não pensarem na possibilidade de tamanha crueldade acontecer com suas filhas, como possíveis vítimas. Uma sensação horrível.

Em depoimento, a adolescente disse que se sentia um lixo. Ela foi estuprada por mais de trinta animais. O que esses homens fizeram atenta contra todas as mulheres, todas as pessoas de boa vontade e altruístas. Um atentado contra a humanidade.

As janelas traumáticas abertas na vida daquela adolescente marcaram-na para sempre. Que dor para um pai, uma mãe, familiares e amigos ao verem aquelas horrendas fotos ou assistirem aos vídeos da estupidez humana, publicados em redes sociais como forma de entretenimento.

O que fizemos com a juventude? Onde falhamos como pais e educadores? Qual é o futuro que nos espera?

Mais uma vez mostramos ao mundo inteiro aquilo que somos capazes de fazer. Em tempos onde o cientificismo é endeusado, mistificado e concebido como o único canal confiável para responder às angústias das pessoas, perguntamos: o que a ciência pode fazer para tirar a humanidade deste estado de barbárie?

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