sexta-feira, 8 de julho de 2016

Nº 2 - Entrevista

Por Rogério Fernandes Lemes

Giani Torres “a fazedora de música”
Fotos: Fabrício Borges e Tatiana Varela

Nossa convidada desta edição é a cantora e, segundo ela, “fazedora de música”. Gentilmente, Giani Torres aceitou nossa solicitação para uma entrevista, com muito bom humor. Nascida em Ivinhema, interior de Mato Grosso do Sul, hoje douradense de coração, gravou seu primeiro disco autoral em 2011, o álbum “Pra Falar de Coisas Simples”.
Em 2013 lança seu primeiro DVD, por meio dos Editais de Financiamento à Cultura do Estado de Mato Grosso do Sul e do Município de Dourados-MS. “Como Bolhas, Água e Sabão” Giani canta coisas simples e registra momentos de show ao vivo, imagens do estúdio de gravação e produção de seu segundo disco, além da produção de quatro videoclipes.
Com data não definida, em 2016 participará da temporada Som na Concha que acontecerá em Campo Grande-MS e será o lançamento oficial de seu segundo disco.

CriticArtes: Giani Torres, primeiramente nossos agradecimentos em aceitar ser nossa entrevistada. Conte-nos um pouco sobre o seu lado de artista.

Giani Torres: Eu que agradeço a oportunidade, poder falar do meu trabalho é sempre um grande prazer. Bem, eu sou o que chamam de artista tardia, acho uma grande bobagem esses rótulos e definições, enfim, “dar nome” a coisas que você desconhece é quase sempre inútil, mas vamos lá, acho que há tempos havia uma artista encubada em mim, tímida e talvez insegura, só que chega uma hora na vida que você não consegue mais fugir de você mesmo e foi isso que aconteceu comigo depois de vencer o Festival Sesi Música em 2009 e 2010 com minhas canções, desde então, venho descobrindo a cada dia, a cada novo trabalho, essa artista em construção. Não frequento os palcos desde criancinha, mas já tenho a certeza que é em cima deles que eu quero ficar. 

CriticArtes: Sobre seu primeiro DVD, quais foram os principais desafios artísticos e quais os fatores que você pontua como positivos.

Giani Torres: O principal desafio foi tentar fazer um trabalho honesto e profissional com pouco dinheiro e pouca experiência. Posso afirmar que das minhas empreitadas essa foi de longe a mais trabalhosa. Nesse DVD eu fui roteirista, produtora, cantora, um pouco atriz, porque o videoclipe te exige isso e essa parte eu detestei, no vídeo sou tão expressiva quanto um pedaço de madeira, isso já não ocorreu com as imagens do show ao vivo, ali é a emoção que aflora naturalmente, por isso eu até relevo as caras e bocas (risos). Mas de positivo foi ver que no final, pelo menos dentro da minha proposta modesta, deu tudo certo, legal também é constatar o quanto a junção da imagem e do áudio são mágicos, uma excelente ferramenta de divulgação. 

CriticArtes: Fale-nos um pouco sobre “Finita Água”, a canção que a revelou no mundo artístico.

Giani Torres: “Finita Água” foi uma das minhas primeiras composições, acho que a compus no final da década de 90 e isso é muito revelador (risos), ficou um tempão guardada, cheguei a gravá-la em estúdio na época, mas só para registro mesmo, a versão era totalmente outra, até que em 2009 eu resolvi inscrevê-la no Festival Sesi de música inédita, achava a música a cara do festival e foi ela quem me deu a alegria de dar meus primeiros passos na carreira profissional, vencer um festival com uma música minha foi bastante motivador, uma vozinha me disse: “ vai lá menina, agora mostra as outras”.

CriticArtes: Em 2011 você lançou seu primeiro disco autoral. Esse trabalho foi bem recebido pelo público?

Giani Torres: Para minha grata surpresa “Pra Falar de Coisas Simples” foi muito bem recebido pelo público, principalmente pelo público douradense, isso meio que quebrou essa coisa de que “santo de casa não faz milagre”, quando me apresento nesta cidade posso sentir as boas energias da plateia, essa gente daqui me deu muito, tenho que fazer muitas músicas pra tentar retribuir. Além da boa receptividade do disco aqui, o álbum foi bastante tocado nas FMs de Campo Grande, selecionado para o Prêmio da Música Brasileira ao lado de grandes nomes, pude lançá-lo também nos maiores eventos artísticos do Estado, foi uma alegria só!

Fotos: Fabrício Borges e Tatiana Varela


CriticArtes: Você é interprete e compositora? O que é mais fácil? Existe uma diferença entre cantar e compor?

Giani Torres: Pra mim nada é fácil! Cantar exige bem mais de mim, a pouca estrada é algo que pesa muito pra uma cantora, principalmente quando se inicia em grandes palcos, aí a coisa complica, são muitos os fatores envolvidos. Como intérprete, o que vem me ajudando muito e de forma prazerosa é participar dos trabalhos de outros artistas, como no projeto do instrumentista Simão Gandhy no espetáculo “Tem Guitarra no Samba” e no espetáculo “Encantares” do poeta e compositor Emmanuel Marinho em parceria com o produtor Paulo Lepetit, participei dos shows aqui em Dourados, em São Paulo e no Rio, foi uma baita escola pra mim, isso tudo no ano passado (2015). Compor é mais minha praia, não que seja fácil, mas é algo que eu faço na minha intimidade, minha exposição só vem depois da música gravada, o momento da composição é unicamente meu, sinto-me livre e plena quando estou compondo, mas ainda sou só uma “fazedora de música”, tenho que trabalhar muito pra chegar ao posto de compositor, venho me esforçando pra compreender a ciência da música, sua técnica, estou estudando harmonia e faço aulas de violão com o Simão, até então era tudo muito empírico, na base do erro e do acerto.

CriticArtes: Como foi essa parceria com o Zeca Baleiro?

Giani Torres: Pura sorte! A estrela brilhou, não havia nada programado, durante as gravações, o produtor do disco Adriano Magoo que também trabalha com o Zeca, achou “Princesa da Janela” a cara dele, ligou pro Zeca e propôs a participação, o Zeca gostou da música e prontamente aceitou o convite, o cara além de genial é generoso, acho que minha sorte residiu aí. 

CriticArtes: Como você vê o cenário musical atual no Brasil?

Giani Torres: O cenário musical de massa é lastimável e parece que o mau gosto não tem limites. Tento identificar nesse cenário quem são os culpados, acredito que o artista tem sim sua parcela de culpa, ele é facilmente seduzido pelos altos cachês e se esquecem do compromisso com a arte, mas pra mim o principal vilão é o mercado, falo de quem produz e vende, são verdadeiros vampiros, sugam o que podem e já saem em busca de outro “protótipo de sucesso”, por isso que a porcaria não tem fim, esses artistas do momento são produzidos em escala industrial e quase que instantaneamente. O público não tem culpa, pois é só isso que é oferecido de forma ostensiva a ele, não existem alternativas capazes de “brigar” com esse mercado milionário, logo, aquilo que há de bom na música brasileira, e tem muita coisa boa, fica escondido, não é de fácil acesso. Atualmente, pra se conhecer um bom trabalho, um artista que traz uma nova proposta musical, é necessário ser pesquisador, sim, este tipo de cultura não vai chegar à casa das pessoas pela TV nem pelas rádios, mas como cultivar nas pessoas o hábito da busca pelo desconhecido? Situação difícil, mas como disse, existem trabalhos maravilhosos nesse país, artistas fantásticos, pra ficar mais fácil, é só começar a pesquisa pelo nosso Estado, tenho muitos ídolos por aqui.

CriticArtes: Qual a diferença marcante entre seus dois discos?

Giani Torres: Acredito que o primeiro seja mais delicado, minimalista, já o segundo, “Como Bolhas, Água e Sabão” é mais visceral, rítmico, apresenta uma cantora mais técnica, mas essas definições são sempre vagas, quiçá equivocadas, quem sabe mesmo dos discos é o público que os ouve e aprecia, minha única preocupação com meus discos é ouvi-los e me enxergar neles, fazer tudo diferente e continuar exatamente a mesma na essência, acho que é isso que quero, acho que é disso que gosto. Muito obrigada Rogério por esta entrevista. Muito obrigada a toda equipe da Revista CriticArtes. Sucesso. Grande abraço!

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