Por Oswaldo Barbosa de Almeida*
Campo Grande, MS, Brasil
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Imagem: jornaldecaruaru.com.br |
Convidado por um amigo abençoado pela fortuna, fui passar um dia agradável em sua fazenda situada no município de Sidrolândia, perto da Capital (Campo Grande, MS). Ao chegar, fiquei deslumbrado pela beleza da propriedade. Não sabia o que mais admirar: se as verdejantes pastagens ocupadas por milhares de reses do mais puro nelore, as grandes plantações de soja, ou a bela construção em estilo colonial da sede, localizada a pouco mais de dois quilômetros da rodovia, a que se liga por uma estrada asfaltada.
Cheguei no sábado pela manhã, relativamente cedo. Recepcionado pelo amigo, fui apresentado a outros convidados, alguns dos quais meus conhecidos. Foi servido um portentoso café da manhã e logo depois fomos todos levados a conhecer as instalações da sede, os mangueiros, as pocilgas muito limpas e bem cuidadas, com animais de raça, o grande pomar, etc. Regressamos à casa já próximo do horário do almoço, no qual foi servido um excelente churrasco, preparado por um mestre, gaúcho como o dono da fazenda. O meu amigo, apesar de sua riqueza, é pessoa bem simples no trato, até mesmo com seus empregados e colaboradores.
Da rodada de chimarrão que precedeu o almoço, quando fui apenas espectador (não sou chegado em chimarrão e tereré), participou, dentre outros, um velho senhor de vasta cabeleira branca, o qual, explicou o fazendeiro, apresentando-o aos visitantes, fora antigo capataz de seu pai naquela mesma propriedade; hoje aposentado e viúvo, foi sucedido pelo filho mais velho, este agora não mais como capataz, mas como administrador, utilizando métodos modernos e computadores para o desempenho de suas funções. Ambos, pai e filho, moram numa boa e espaçosa residência próxima da casa principal.
Pois bem, aquele homem simples despertou minha atenção ao preparar seu cigarrinho de palha, evocando em mim recordações da minha infância na fazenda e mesmo na cidade de Camapuã, ao ver os homens mais velhos preparando e cortando a palha seca da espiga de milho, alisando-a com a lâmina do canivete bem afiado (amolado) na pedra, picando o fumo de rolo e aparando-o na palma da mão, esfregando-o com as mãos a fim de homogeneizá-lo, e, finalmente, enrolando-o com a palha previamente preparada. Exatamente como ele fazia agora. Dizia que os modernos cigarros não têm o mesmo sabor do cigarrinho de palha.
Recordou-me também uma ocasião em que eu, então empregado de um banco e sendo o encarregado da preparação e do controle das operações de crédito da agência, trabalhando próximo do gerente, recebi dele um papel com três nomes e uma ordem: “Me passe as fichas desses pica-fumo”. Busquei no arquivo as fichas solicitadas e verifiquei tratar-se de pequenos e simplórios fazendeiros da mesma região onde eu agora estava, antigos clientes do banco, que, com simplicidade e naturalidade, frequentavam a agência em seus trajes puídos pelo uso, calçando botas, chapéu na cabeça. Um deles era então pretendente a um empréstimo e os outros dois seriam seus avalistas na nota promissória correspondente.
* Advogado e Escritor.
Caro colega Oswaldo, adorei seu texto! Parece até que viajei com vc.para Sidrolandia e conheci a fazenda e o capataz aposentado com seu cigarro de palha!
ResponderExcluirMuitos sabem da minha paixão por uma boa prosa igualzinha a essa!
Parabéns e obrigada por compartilhar essa belezura!
Olá, Simone!
Excluir- Muito obrigado por suas elogiosas palavras!Realmente, "viajar" no tempo e na memória é muito bom, quando se tem boas recordações! Grande abraço!