quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Por uma política cultural pública

  Revista Criticartes - Ano II, nº. 5 - 2016  
Imagem: https://gds-wifmtpphmjvvgffvmg.netdna-ssl.com

Dinovaldo Gilioli 
Florianópolis, SC
Autor do livro Cem poemas

Cultura não é só literatura, música, cinema, teatro, dança, artes plásticas. É também o conjunto das chamadas “culturas populares”, o artesanato, as festas e o folclore. Além disso, é a forma de comer, de vestir, de enterrar nossos mortos, de viver. Enfim, é um processo de construção permanente no qual homens e mulheres são sujeitos criadores. Mais do que entretenimento, é o modo pelo qual uma sociedade dá sentido à sua própria existência.
Compartilhando da ideia de que nenhuma cultura é superior a outra, uma política cultural de caráter público, democrático, pluralista não deve reforçar as diferenças entre o que se conhece geralmente como “cultura erudita” (música clássica, balé, literatura, ópera, etc.) e “cultura popular”. Pelo contrário, para que não haja uma sobreposição de valores, deve-se estimular a diversidade de práticas culturais e provocar o encontro das várias maneiras do fazer cultural. Sem esquecer que certas atividades são simplesmente invenções da indústria cultural que recorrem à padronização/massificação, visando apenas ao lucro. Ou ainda servem a interesses populistas e dominantes.
Neste sentido, uma política cultural pública deve incentivar e provocar a auto-organização dos setores culturais, a fim de que a produção cultural não fique sujeita aos interesses do Estado e/ou iniciativa privada, contribuindo para que a pluralidade cultural que compõe o município assuma o destino de suas práticas, não abdicando de sua herança ancestral, nem do direito à invenção. Essa política deve ainda resgatar a memória cultural do povo, preservar a sua identidade e estimular o intercâmbio dentro e fora do país.
É preciso romper com a lógica privatista, em que o poder público procura se desvencilhar de sua função social. Afinal de contas, por que pagamos impostos, a serviço de que, e de quem, deve estar o Estado? É fundamental e urgente cobrar dos gestores da coisa pública a responsabilidade perante as necessidades culturais da cidade, que leve em consideração os artistas, os produtores culturais e a população.
Por fim, uma política cultural pública deve estimular a produção e possibilitar o acesso aos bens culturais sem privilégio de qualquer espécie e contribuir para a efetiva construção da cidadania, em que sujeitos críticos – verdadeiros fazedores da história, tomem em suas mãos o controle das práticas culturais.
Em tempos neoliberais, de endeusamento do mercado, de exacerbado culto ao individualismo, de selvagem competição e egoísmo, nunca foi tão importante valorizar a cultura, como identidade genuína de um povo e da nação, pois a ação cultural pode propiciar espaços que resgatem, preservem e criem novos vínculos de solidariedade, em que o ser humano sobreponha todas as coisas.

  Revista Criticartes - Ano II, nº. 5 - 2016  

Nenhum comentário:

Postar um comentário