sábado, 18 de fevereiro de 2017

O Pequeno Príncipe e eu

Por Rogério Fernandes Lemes*
Imagem: http://s2.glbimg.com

Desde que li “O pequeno príncipe” associei Antoine de Saint-Exupéry ao meu avô materno. Não sei o porquê dessa associação, mas nunca mais esqueci da estória e nem do meu avô.

Toda vez que lembro do pequeno príncipe sinto uma sensação estranha. Uma espécie de “poder criador”.

É como se levasse meu avô e sua realidade de vida para aquele deserto. Meu avô, com toda aquela calma, parece consertar o avião e assim sobrevoarmos as pradarias, os vales ou as planícies de um mundo só nosso, surreal.

Não conto a ninguém essa besteira que sinto ao associar meu avô materno à estória do pequeno príncipe. Primeiro porque acho que ela não é importante, do ponto de vista da Literatura. Mas então, lembro-me que a Literatura é, por definição, ficção, criação que nos remetem a sensações extra-sensoriais.

Em segundo lugar, por não acreditar em minha capacidade como autor. Me vejo impostor e, por esse motivo, não falo nada, apenas escrevo. Apenas o silêncio e minha sensação estranha de ver meu avô, um quase veterano da Segunda Guerra Mundial, consertando o avião de Saint-Exupéry somados ao ringir da caneta sobre o papel, ou dos estalos delicados das teclas do computador.

Como dizem as amigas da minha filha: “Cara, isso é muito louco”.

Sinceramente não entendo muito os adolescentes. Não sei se “muito louco” é uma deficiência cognitiva e intelectual da pouca idade a respeito das coisas ou se, realmente, essa sensação que sinto é algo muito louco.

De qualquer forma, quando meu avô materno faleceu senti que ele, de fato, havia consertado o avião. Só que ele foi sem mim.

Há quase três anos espero seu regresso. Nenhum sinal nos céus; nem um ronco de avião. Nada.
Hoje tudo faz sentido. A estória, o avião, o pequeno príncipe, meu avô e eu.

_____
Autor do livro Subjetividade na Pós-modernidade, 2015.

4 comentários:

  1. Também tive um avô , li o Pequeno Príncipe e tenho as sensações de uma saudade daquilo que não foi vivido. Bom texto, belo momento para recordar, no meu caso sou a princesa.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom que o texto causou boas lembranças para você Nena. Obrigado pelo carinho e leitura.

      Excluir
  2. Que sublime este seu sentimento pelo seu avô. E a saudade que ficou como num conto de fadas.Uma memoria muito significante.Parabens!

    ResponderExcluir