quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Qual o verdadeiro tamanho das “coisas”? Cálculos Filosóficos e Literários

Por Bianca Marafiga
Imagem: https://www.sonhosbr.com.br
Se fizermos esta pergunta aos físicos e matemáticos obviamente responderão que todo e qualquer tamanho pode ser medido através de instrumentos próprios e fórmulas exatas. De fato, há milhões de anos sabemos quão poderosos são os cálculos exatos para a sobrevivência humana na terra. Desde a antiguidade a necessidade do homem em relacionar os acontecimentos naturais ao seu cotidiano despertou o interesse pelos cálculos e números. 
Seu surgimento se dá por volta de 6000 a. C., no Egito. Este espaço oferecia condições favoráveis para a agricultura e a partir deste ponto houve a necessidade de entender minimamente os espaços, as fases e a colheita. Foi através desta problemática que interesses e pesquisas sobre a matemática tomaram força.
Passeando pela história nos deparamos com estudiosos que certamente teriam respostas formuladas através de códigos perfeitos. Podemos citar alguns exemplos como: René Descartes (criador da geometria analítica no século 17) e Isaac Newton (responsável por avanços científicos significativos como a lei da gravidade). Mas será que esses e outros matemáticos teriam a resposta para o tamanho filosófico de todas as coisas? 
Qual a medida da felicidade, sonhos, decepções ou saudades? Quiçá Arquimedes além de unir o mundo abstrato dos números com o real, pudesse criar uma receita de amor e união entre os sapiens. 
A ausência que nos traz as mais dolorosas lágrimas, a dúvida implantada em nossos corações, e a liquidez subjetiva que se esvai, ainda não podem ser mensuradas ou distribuídas em eixo x e y. Sobretudo precisam caber em nossa massa corporal, que por sinal é a mesma aqui e no espaço. No entanto sem válvula de escape o corpo tende ao fingimento da resistência. 
Existe ainda uma, importante, variável – a proporção sentida dentro de cada um de nós. Protágoras, um importante filósofo nascido 490 a. C. em Abdera na Grécia, acreditava que qualquer sentido e afirmação sempre era relativo a um ponto de vista, a uma sociedade ou ao modo de pensar. Concluiu que o “Homem é a medida de todas as coisas”, ou seja, o tamanho das coisas não são as mesmas para todos os homens. 
Como isso é possível partindo do princípio de que somos herdeiros da mesma poeira estelar? Afinal o que nos difere uns dos outros? Seria a nossa subjetividade ou existe um termômetro invisível dentro de nós?
O homem pode mesmo ser a medida de todas as coisas, sobretudo porque é capaz de interpretar todas elas, mesmo que ainda a famosa frase de Shakespeare: “ser ou não ser, eis a questão” seja uma realidade inquestionável.
É sabido que atrelado a nossa existência, existam muitas coisas que estão além de qualquer medida, que não se equacionam e por isso no final das contas o resultado é incerto e nada quantitativo. Coisas como fé, amor, poesia, moral e a ética parecem residir em um planeta distante. Talvez um desses “B612” que inventaram para gente se deliciar em um cardápio de mistérios e fantasias, na qual humanamente jamais poderiam ser tabulados ou catalogados.
No entanto o homem está no mundo e o mundo vive nos homens. Se ele for capaz de perceber a essência de cada “coisa” é perfeitamente possível medir o infinito através da nossa finitude existencial humana. 
Ou insistimos em descartar as possibilidades de enxergar para além de ver, ou desembaçamos as lentes e percebemos definitivamente que a fórmula para entender a vida talvez seja a medida dos homens. Não por sermos o centro das análises, mas porque o autoconhecimento nos eleva aos entendimentos mais profundos. Ao entender nosso próprio significado, é possível que de uma única fórmula se apresentem milhares de resultados. Isto porque não existe uma verdade absoluta, ela pode ser moldável diante do relativismo das sensações humanas.
A sabedoria não está disponível em teses, ou no prêmio Nobel. Ela vive em nossas sensações, sentimentos e principalmente no amor, a maior de todas as coisas e a única capaz de transcender as dimensões do tempo e espaço. Existem duas lentes para enxergar o universo, uma chama-se conhecimento e, a outra, sentidos essenciais. Enquanto os sapiens estiverem dispostos a escolher uma e excluir a outra, a única medida encontrada será o próprio ego. 
Embora não haja muitos homens dispostos a mudar o código ou romper as barreiras das blindagens, ainda sim há uma infinita rede de possibilidades. E porque existe esse infinito fora e dentro de mim, jamais me esquecerei do que Sócrates me ensinou: “existem coisas que os livros jamais poderão ensinar”.

* Bióloga
Especialista em Educação e Gestão Ambiental
Mestre em Biologia Geral/Bioprospecção

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