quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Os desafios editoriais no Brasil: dilemas e perspectivas

Por Rogério Fernandes Lemes
Fonte: sergiocatarino.net
Este artigo é para qualquer pessoa, mas, especialmente aos novos poetas e escritores conhecidos em nosso tempo como “autores autofinanciáveis”. Não se trata de uma categoria nova. No entanto, as novas tecnologias delimitam novos paradigmas, ou seja, novas maneiras de interação editorial e produção de novas obras literárias.
Por exemplo, o procedimento para avaliação de originais, há vinte ou trinta anos atrás, era muito diferente e demorado. Os autores, ao concluírem seus livros submetiam, através de envios postais seus originais às editoras. Decorridos algum tempo recebiam a devolutiva se seus originais seriam ou não publicados.
A dinâmica de tais publicações sempre beneficiava os editores, pois estes possuíam os meios necessários para publicação destinando, dessa forma, uma pequena porcentagem das vendas dos livros aos seus autores, em média, dez por cento. Se voltarmos ao século passado e tomarmos o livro russo Crime e Castigo, por exemplo, constataremos sua produção em partes, ou por capítulos, que eram enviados ao editor à medida que Dostoiévski os concluía.
De qualquer forma, os autores quase sempre desprovidos de recursos econômicos, ficavam à mercê da lei de mercado, a oferta e a procura, além dos editores priorizarem a literatura comercial, obviamente. O foco das editoras sempre foi o lucro, independente se a produção fosse superior ou inferior, para utilizar a definição de Aristóteles quando atribui assuntos superiores à tragédia e, inferiores, à comédia.
Quando falamos, anteriormente, que as novas tecnologias mudaram essa dinâmica editorial, é no sentido de uma facilidade e aproximação entre autores e editores, principalmente ao processo que conhecemos como autofinanciamento de livros. Os autores autofinanciáveis contam com as pequenas editoras espalhadas por todo o país, além da possibilidade que as gráficas oferecem para as pequenas tiragens, a partir de cinquenta exemplares.
E quais seriam os prós e contras desse novo modelo editorial praticado? Quais as vantagens e desvantagens para os autores? A produção editorial tem o mesmo valor literário de um livro produzido em uma grande editora? Para responder a essas perguntas vale lembrarmos que Manuel Bandeira, e outros poetas brasileiros consagrados, fizeram pequenas tiragens autofinanciáveis de seus primeiros livros, em torno de 200 exemplares.
A facilidade de comunicação direta com o editor, no caso das pequenas editoras, é a primeira vantagem que os autores encontram para tratar da produção de seu sonho literário. A possibilidade de uma pequena tiragem também é algo importante, que evita o acúmulo de livros parados, sem falar no valor final do projeto, algo que não comprometeria o orçamento de seus autores. A produção editorial e tão válida quanto um livro publicado por uma editora de renome nacional ou internacional, pois os livros são registrados na Biblioteca Nacional, possuem ficha catalográfica, envio de exemplar à reserva legal ou averbação da obra no Escritório de Direitos Autorais. Outra vantagem considerável aos autores é o fato de que receberão o valor das vendas de seus livros, cem por cento.
E no que se refere às desvantagens dos projetos autofinanciáveis? O fato dos autores financiarem cem por centro do projeto seriam uma questão e, o fato da distribuição dos livros às livrarias do país, seria a outra desvantagem considerável para a divulgação do nome de qualquer autor.
Mas nos deparamos com outra questão de fácil resposta. Escrever algo brilhante e comercialmente viável para que uma grande editora escolha os originais e tente emplacar no mercado, ou publicar, ainda que com outras pretensões pessoais mais modestas, seus livros há muito guardados nas gavetas? Com a consciência e o desejo de que seus escritos sejam conhecidos e lidos, é que os novos autores autofinanciáveis investem em seus sonhos literários.
Outra vantagem já mencionada, a da pequena tiragem, é o fato de uma rápida reimpressão de exemplares de acordo com demanda dos autores. Essa agilidade garante uma carreira literária local bem consolidada. Esperar a vida toda para escrever o texto perfeito ou mesmo ter os originais aceitos por uma editora que, além de distribuir e lucrar muito, caso o livro se torne um best-seller, além de receber dez por cento dessas vendas, é um fator definitivo para que os autores autofinanciáveis invistam em seus projetos.
As novas tecnologias e as parcerias comerciais entre editoras, gráficas e transportadoras derrubaram as barreiras entre editores e autores, em qualquer parte do país. O crescente aumento desses setores empresariais no mercado garante preços, economicamente viáveis, além de qualidade de impressão e prazos de entrega.


Rogério Fernandes Lemes é sociólogo, jornalista, editor, poeta e escritor, autor de quatro livros.

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