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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Entrevista com Suely Sabino, Simplesmente Sys

Por Rogério Fernandes Lemes

Revista Criticartes | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04
Foto: Nilzete Camilo Santos
Nossa entrevistada desta edição da Revista Criticartes é mineira, natural de Governador Valadares. Atualmente reside na cidade de Coronel Fabriciano, Minas Gerais. Ainda não tem livro publicado, porém, é autora de centenas de poemas e, o mais impressionante, é a criadora de um estilo de poesia totalmente novo batizado, por ela, de ECOSYS. Esse foi um dos fatores que despertou interesse e a motivação na escolha por entrevistá-la. Agradecemos ao Tim Soares, escritor paulista e autor de publicações em nossas edições anteriores, por ser o mediador desta produtiva e encantadora interação. Para deleite de nossos leitores, agora internacionais, Simplesmente Sys.

Criticartes: Gostaríamos, primeiramente, de conhecer a autora por ela mesma. Conte-nos sobre sua trajetória e experiências com as letras desde a tenra infância.

Suely Sabino: Eu com a idade de 10 anos, filha de pais analfabetos; recebi a responsabilidade de mediar cartas entre eles e os parentes. Eles ditavam o que queriam informar e o que desejavam saber. Eu floreava as cartas como dizia meu pai, elas ganhavam um toque poético nas palavras que eu escolhia. No final eu achava interessante citar um versículo bíblico. A fama das minhas cartas correu e alguns amigos e vizinhos me pediram para eu escrever cartas melosas (as de amor), para eles enviarem para namorados. Algumas para amigos e parentes distantes. Comecei a citar pensamentos e frases no final destas cartas, nada de minha autoria ainda. Lembrando que nesta época não tínhamos a tecnologia de hoje para conversarmos. As cartas eram tudo. Então, comecei escrevendo cartas.

Criticartes: Em que momento de sua vida você, efetivamente, percebeu que não poderia ficar mais sem escrever?

Suely Sabino: No ano de 1982 eu cursava o curso de técnico em contabilidade, conheci um professor de português que amava literatura. Nesta época eu já lia pelo menos uns três livros por semana. Mas foi a pedido dele que nossa turma teve como trabalho escolar valendo 30 pontos, fazer uma coletânea de poesias, de diversos poetas. Eu tive que pesquisar em bibliotecas livros com poemas e copiar alguns manualmente. Sinceramente, eu fiquei fascinada com o que eu lia, fiz mais que o dever de casa, eu lia sobre os poetas, eu queria os livros para mim. No final meu caderno foi usado como modelo de trabalho e o professor repetiu o trabalho no final do ano e novamente recebi nota máxima pelo capricho e dedicação. No final sobraram folhas neste caderno e eu coloquei poemas de minha autoria. Abriu-se um portal de sentimentos e eu usei este refúgio para desabafar escrevendo; escrevia nas últimas folhas do caderno, mesmo em outras aulas como estatística. Meu professor de estatística (um japonês) veio como quem não quer nada e pegou meu caderno, sentou ao meu lado e começou a ler, meu coração disparou de medo. Ele saiu da sala com meu caderno e eu pensei, estou perdida, o que vão fazer. Tiraram Xerox do poema e entraram em contato com meu pai. Nesta ocasião meus pais haviam se separado e poema com o título MORTIFICAÇÃO assustou a todos. Pensaram ser uma carta de despedida, pensaram que eu ia suicidar. Recebi muita atenção nesta ocasião e levei outros poemas para eles lerem; eram tristes, mas era só um dom e não significava que era real. Depois deste trabalho e deste poema polêmico eu nunca mais parei de escrever. Só tomei o cuidado de não revelar eles.

Criticartes: Quando você escreve, quais os signos que te inspiram no seu processo criativo?

Suely Sabino: Eu sou uma escritora romântica, uso muito de metáforas para descrever a realidade sem chocar. Eu chamo meus versos de enigmas, cada um entende de acordo com o que está vivendo. Observo isto nos comentários e dou vivas sorrindo aqui do outro lado da telinha quando um leitor comenta exatamente o que eu quis passar. Escrevo também situações fictícias, onde eu queria ser ou estar. Mas isto poucos percebem.

Criticartes: Agora uma das perguntas mais esperadas. Quando e como surgiu o Ecosys? O que ele é?

Suely Sabino: No ano de 2013 eu decidi parar de publicar meus poemas no site que eu escrevo; eu estava bem deprimida e cansada de tudo. Eu ia apagar tudo que já tinha publicado. Mas resolvi ler antes alguns textos de amigos e vi a palavra mágica: EXPERIMENTAL. Li as regras de um e outro e comecei a escrever de novo seguindo as regras deles. Amo desafios! (é claro que não apaguei nada e fiquei). Num certo momento eu reli meu poema por título BORBOLETA NEGRA escrito em 31 de julho de 2012, onde o ecosys escondeu por um tempo. Este poema tem característica do ecosys, embora não tinha as regras do ecosys ainda. Observando bem eu vi que meu poema tinha uma linha metódica oculta e agradou a muitos. Então resolvi criar regras para facilitar o entendimento do que eu queria como modelo para um poema que cativasse o gosto de outros poetas para eu ter minha categoria no experimental do site recanto das letras. O ECOSYS é uma criação minha, chamo de meu filho, e ele tem padrinhos importantes que me ajudaram opinando em detalhes para ficar sonoro e bem construído. Não levei o ecosys simplesmente, não o lancei de qualquer maneira, pedi aos poetas que avaliassem e fossem sinceros quanto à veracidade do mesmo. No início ele era com cinco quadras fechadas e acharam difícil, deixei só uma que hoje chamo de Ecosys-Ecosys. O ecosys-ecosys também repetia somente a última palavra do primeiro verso, aceitei a sugestão do poeta português Alexandre Costa e alterei a regra repetindo também a primeira palavra do primeiro verso. Com um pequeno espaço de tempo o ecosys ficou fácil de mais, e os poetas não conseguiam escrever só uma quadra. Foi quando criei a corrente de ecosys (sugeri no mínimo 05 quadras, onde as últimas palavras de cada quadra acorrentam-se uma na outra), depois veio o conto em ecosys (desafio de contar uma história verdadeira ou fictícia usando as regras básicas do ecosys com apenas 12 quadras) e para desafiar mais a mente e o talento de todos, tem também o ecosysacróstico (onde o título aparece na diagonal), e com as mesmas regras básicas do ecosys.

Criticartes: Como se escreve um Ecosys?

Suely Sabino: O ecosys é no início uma quadra de versos. O primeiro verso é a base de todos os outros. Quando termina o primeiro verso, a palavra final dará início ao segundo verso, e assim vai ser feito até o quarto e último verso que tem como regra repetir no final a primeira ou última palavra do primeiro verso.

Criticartes: Quais são as particularidades de um Ecosys? O que, de fato, caracteriza-o como um legítimo Ecosys?

Suely Sabino: A característica marcante do ecosys é a repetição das palavras. Ao ler em voz alta pode se notar um eco.

Criticartes: Você disse que hoje já são mais de 1700 Ecosys publicados no Site do Escritor. São todos de sua autoria ou são em parceria com outros escritores?

Suely Sabino: Estes mais de 1700 ecosys são só os meus. Tenho tido a honra de contar com a participação de 108 poetas que escreveram ou escrevem ecosys com frequência. Somam mais de 3000 ecosys. Eu tenho arquivado os nomes e e-mails de vários poetas brasileiros. O ecosys já foi escrito em quase todos os Estados brasileiros. Faltam só sete Estados para este estilo atingir todo o Brasil. Fico feliz de ressaltar que este estilo já está sendo escrito por poetas estrangeiros, de Portugal e da África.

Criticartes: Você também nos contou que tem um grande sonho: publicar seu primeiro livro. Disse também que já recebeu vários convites e que vem adiando esse sonho. Qual o motivo?

Suely Sabino: Um sonho deve ser bem vivido. Eu quero publicar meu livro numa editora séria e de qualidade. Quero escolher uma capa que chame a atenção do público e ter o miolo do livro com uma qualidade ótima. Quero um livro revisado. Tudo que eu tiver direito. Não posso queimar meu filme na minha primeira publicação. 

Criticartes: Quando nos enviou seu currículo, algo chamou a atenção. Você se declara “apolítica”. Sabemos que essa escolha, por si mesma, já é uma escolha política. Você poderia falar sobre sua concepção de Literatura e Política? Você acredita que são movimentos que não devem convergir?

Suely Sabino: Eu declaro ser apolítica neste país. Tenho vergonha da nossa política e não sou de dar meias palavras. Eu já participei de encontros com políticos, já tive um partido, já votei pelo partido, já acertei na escolha de alguns e decepcionei muito também. Leio o que outros escritores escrevem sobre política e me calo. Não me sinto á vontade sobre este assunto. Sempre leva a discussões sem sentido, cada um crê no que quer e não conseguimos converter ninguém. Então cada um vai se achar na sua própria decepção ou não. A literatura é um caminho com muitos atalhos, vale a pena aventurar-se no que se acredita e entende, até na política. Eu só entendo meu lado poético, hoje eu quero paz e levar ao meu público um pouco de esperança e amor, falar de coisas simples e deixar eles por alguns segundos longe da realidade cruel.

Criticartes: Você tem participações em antologias? Qual sua concepção sobre essa forma que muitos editores têm de reunir e publicar vários autores?

Suely Sabino: Eu participei de uma antologia organizada pelo poeta Antônio Bardo, Antologia II da revista de poesias. O lado positivo da antologia é a interação com outros poetas de diversos estados brasileiros. É uma forma de divulgar seu trabalho pelo Brasil. O lado negativo é a forma de vendas. Nossos direitos autorais são pagos com livros e nós temos que vender. Nem todos têm este dom de ser um bom vendedor. O custo de uma antologia não é barato. Mas vale pela participação é pela divulgação. 

Criticartes: Como você percebe esse movimento poético dos autores conectados pela internet? 

Suely Sabino: Um privilégio que devemos usufruir com sabedoria. Eu jamais teria publicado um poema se quer sem a ajuda da internet, venho aprendendo muito com meus amigos que escrevem. Já desengavetei centenas de poemas e ainda tive o privilégio de criar um estilo, que o mundo jamais ia conhecer sem a internet. Viva a modernidade! Escreva, publique, mas guarde seus originais, registre seus direitos autorais. Não confie em qualquer site. Existem muitos plagiadores. Na dúvida, peça opinião de quem entende do assunto.

Criticartes: Agradecemos sua participação nesta 4ª Edição da Revista Criticartes. Faça suas considerações finais. 

Suely Sabino: Eu estou feliz e emocionada com a oportunidade de trazer a público um pouco sobre minha pessoa e minha criação: o ecosys. Agradeço ao poeta Tim Soares por esta ponte que fez entre eu e a revista Criticartes. Está sendo um prazer interagir com vocês da revista, na pessoa do editor Rogério. Numa outra oportunidade espero estar lançando meu livro solo junto com vocês. Muito obrigado a toda equipe da revista Criticartes! Quero homenagear a Revista Criticartes com um Ecosysacróstico e uma Corrente de Ecosys. AbraçoSys!

Acosysacróstico
Revista Criticartes

Respeitando sentimentos
Sentimentos que levam
Levam os dons com seriedade
Seriedade que transforma
Transforma o simples em importante
Importante voo é a aventura
Aventura é ir com o coração.

Coração com criatividade
Criatividade compõe a paisagem
Paisagem é a arte que fortalece
Fortalece a realidade
Realidade desencadeia
Desencadeia veleidades
Veleidades vêm transbordando
Transbordando muitos sentimentos
Sentimentos e sobriedade
Sobriedade nos pensamentos
Pensamentos e versos respeitando.

Corrente de Ecosys
Revista Criticartes

Encontrei um caminho
Caminho livre para seguir
Seguir e deixar uma mensagem
Mensagem de otimismo,

Otimismo eu encontrei aqui
Aqui na revista Criticartes
Criticartes que abraça a arte
Arte de todos recebe,

Recebe e impulsiona
Impulsiona a autoestima
Autoestima nós ganhamos
Ganhamos espaço para viver,

Viver um sonho em versos
Versos hoje publicados
Publicados para o mundo
Mundo cheio de talentos,

Talentos que vão ecoar
Ecoar longe e voltar
Voltar com o sucesso
Sucesso eu já aqui encontrei.

AbraçoSys!

Um comentário:

  1. Sys és Maravilhosa
    Maravilhosa nos encanta
    Encanta com lindos versos
    Versos ecoam, maravilhosa Sys

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