Por Rogério Fernandes Lemes*
A ideia que se tem é a de que tudo foi engenhosamente elaborado para causar asco e descrença nas instituições. A segunda parte do plano é classificar a dissidência, ou seja, desqualificar toda e qualquer opinião contrária ou crítica às bizarrices advindas de desserviços.
A situação é tão caótica que conceitos como cultura, por exemplo, amplamente discutido nos bancos acadêmicos entre estruturalistas, pragmáticos e derivados congêneres não chegam até a sociedade. O contemporâneo é mesmo um berço esplêndido. Tudo é possível ao que crê!
Não bastasse o vexame brasileiro em suas tentativas frustradas de combate à corrupção, ou suas manobras estatais para institucionalizá-la, existe outro conceito que se perdeu ao logo do tempo: chama-se “Projeto de Lei”. Passamos a utilizá-lo indiscriminadamente. É até hilário, mas cabe aqui um trocadilho: “é politicamente correto”.
Que hajam Projetos de Lei indiscriminadamente! Cresçam e multipliquem-se e dominem o ideário da vereança, que ganha muito bem por sinal. Façamos Projeto de Lei para que o filho do vizinho passe a ser, a partir de agora, nosso filho. Façamos Projeto de Lei para que as práticas centenárias daquele grupo seja, a partir de agora e, por força de Lei, nossas práticas.
Mas, e a opinião dos representados? Como fica? Ignorem suas opiniões, afinal, não sabem nada de política. E, além do mais, nosso projeto de Lei visa homenagear o próprio filho do vizinho que queremos para nós; apenas homenagear as práticas dos outros que agora serão nossas. Isso já basta para justificar nossos... Projetos de Lei.
A descrição expositiva acima foi retirada de uma romance chamado “A lambança”. Alguns personagens são iluminados, porém, entediados sem saberem ao certo o que devem fazer. Então, agem por experimentações. Um Projeto de Lei passou e foi até legalzinho. “Mas quem o apresentou foi meu oponente” pensou outro ser iluminado e representante legal dos amantes do tun-tun-tun (que segundo a interpretação contemporânea, é cultura). “Preciso apresentar o meu projeto de Lei também”.
Conversa vai, conversa vem, uma visita aqui, outra ali e as relações de compadrio são estabelecidas. Eu voto no teu e você... Advinha? Vota no meu, irmão. E desta forma, a gestão em “A lambança” apresenta suas bizarrices cômicas, porém, lamentáveis.
Os vizinhos, claro, não gostaram nenhum pouco. Recorreram ao tutor-mor acusando o iluminado proponente do famigerado “Projeto de Lei” e representante dos amantes do tun-tun-tun, de usurpador. E bradou isso para todo mundo; em rede nacional. O proponente, vendo a lambança (em homenagem ao romance) justifica-se dizendo que “não, veja bem, a criança parece com a gente; até anda em nosso meio. Então pensamos em uma forma ‘legal’ de homenagear seus pais tirando eles da jogada. Entende? A nossa intenção é boa”.
Ainda que este texto trate de uma ficção, pois se houver algo semelhante na vida real é mera coincidência, ele nos faz pensar sobre a razoabilidade entre a alta taxa de impostos que os contribuintes amargam mensalmente e os benefícios coletivos que recebem.
O autor do romance “A lambança” é um sonhador. Sonha com o dia em que seus representantes tenham orgulho de representar as pessoas com responsabilidade e visão de líderes gestores; sonha com o dia em que a manutenção asfáltica seja de qualidade e não fique pior após os buracos atulhados; sonha com o dia em que os pais trabalharam tranquilos sabendo que haverá vaga para seus filhos nos centros de educação infantil; sonha com o dia em que Projetos de Lei venham para coibir e punir criminosos que desviam verbas públicas da oncologia, por exemplo, para abastecerem caixa dois e financiarem suas campanhas, na busca de saciar o desejo por propina que emana dos amantes do tun-tun-tun. (O tun-tun-tun é um conceito de arte pós-moderno ironicamente utilizado pelo autor de “A lambança”, como forma de aplacar tamanha indignação com os Projetos de Lei apresentados na sua comunidade fictícia.
A relevância dos Projetos de Lei está, diretamente, ligada à importância que os contribuintes dão aos atos mais eficazes e poderosos que possuem: cobrar e exigir que seus representantes bem os representem. O resto, bem... o resto é conspiração.
A situação é tão caótica que conceitos como cultura, por exemplo, amplamente discutido nos bancos acadêmicos entre estruturalistas, pragmáticos e derivados congêneres não chegam até a sociedade. O contemporâneo é mesmo um berço esplêndido. Tudo é possível ao que crê!
Não bastasse o vexame brasileiro em suas tentativas frustradas de combate à corrupção, ou suas manobras estatais para institucionalizá-la, existe outro conceito que se perdeu ao logo do tempo: chama-se “Projeto de Lei”. Passamos a utilizá-lo indiscriminadamente. É até hilário, mas cabe aqui um trocadilho: “é politicamente correto”.
Que hajam Projetos de Lei indiscriminadamente! Cresçam e multipliquem-se e dominem o ideário da vereança, que ganha muito bem por sinal. Façamos Projeto de Lei para que o filho do vizinho passe a ser, a partir de agora, nosso filho. Façamos Projeto de Lei para que as práticas centenárias daquele grupo seja, a partir de agora e, por força de Lei, nossas práticas.
Mas, e a opinião dos representados? Como fica? Ignorem suas opiniões, afinal, não sabem nada de política. E, além do mais, nosso projeto de Lei visa homenagear o próprio filho do vizinho que queremos para nós; apenas homenagear as práticas dos outros que agora serão nossas. Isso já basta para justificar nossos... Projetos de Lei.
A descrição expositiva acima foi retirada de uma romance chamado “A lambança”. Alguns personagens são iluminados, porém, entediados sem saberem ao certo o que devem fazer. Então, agem por experimentações. Um Projeto de Lei passou e foi até legalzinho. “Mas quem o apresentou foi meu oponente” pensou outro ser iluminado e representante legal dos amantes do tun-tun-tun (que segundo a interpretação contemporânea, é cultura). “Preciso apresentar o meu projeto de Lei também”.
Conversa vai, conversa vem, uma visita aqui, outra ali e as relações de compadrio são estabelecidas. Eu voto no teu e você... Advinha? Vota no meu, irmão. E desta forma, a gestão em “A lambança” apresenta suas bizarrices cômicas, porém, lamentáveis.
Os vizinhos, claro, não gostaram nenhum pouco. Recorreram ao tutor-mor acusando o iluminado proponente do famigerado “Projeto de Lei” e representante dos amantes do tun-tun-tun, de usurpador. E bradou isso para todo mundo; em rede nacional. O proponente, vendo a lambança (em homenagem ao romance) justifica-se dizendo que “não, veja bem, a criança parece com a gente; até anda em nosso meio. Então pensamos em uma forma ‘legal’ de homenagear seus pais tirando eles da jogada. Entende? A nossa intenção é boa”.
Ainda que este texto trate de uma ficção, pois se houver algo semelhante na vida real é mera coincidência, ele nos faz pensar sobre a razoabilidade entre a alta taxa de impostos que os contribuintes amargam mensalmente e os benefícios coletivos que recebem.
O autor do romance “A lambança” é um sonhador. Sonha com o dia em que seus representantes tenham orgulho de representar as pessoas com responsabilidade e visão de líderes gestores; sonha com o dia em que a manutenção asfáltica seja de qualidade e não fique pior após os buracos atulhados; sonha com o dia em que os pais trabalharam tranquilos sabendo que haverá vaga para seus filhos nos centros de educação infantil; sonha com o dia em que Projetos de Lei venham para coibir e punir criminosos que desviam verbas públicas da oncologia, por exemplo, para abastecerem caixa dois e financiarem suas campanhas, na busca de saciar o desejo por propina que emana dos amantes do tun-tun-tun. (O tun-tun-tun é um conceito de arte pós-moderno ironicamente utilizado pelo autor de “A lambança”, como forma de aplacar tamanha indignação com os Projetos de Lei apresentados na sua comunidade fictícia.
A relevância dos Projetos de Lei está, diretamente, ligada à importância que os contribuintes dão aos atos mais eficazes e poderosos que possuem: cobrar e exigir que seus representantes bem os representem. O resto, bem... o resto é conspiração.
*Vice-Presidente da União Brasileira de Escritores/MS.
Curta a Fanpage do Escritor no Facebook.
A gente vive nessa lambança.
ResponderExcluirEncontrar ideias filosóficas em um artigo nos imprime maiores vontades de pesquisar e tornar a escrever.
ResponderExcluir